Será possível que eu sou assim tão perfeita?

19/10/2021

Ontem tive o desprazer de assistir a uma situação extremamente triste, a qual sinto necessidade de partilhar e pelo menos tentar levar a que se reflita sobre ela.

"A minha mais velha não quer nada, só quer sofá, televisão e telemóvel. Peço-lhe para ajudar-me em casa mas ela não faz nada!"

Pormenor: conversa, em praça pública, entre a mãe desta menina (menina que não tem mais de seis anos) e a vizinha e, quando a mãe percebeu a minha presença aumentou o tom de voz, acredito que fê-lo na esperança de eu juntar-me a ela na humilhação pública das suas filhas.

A criança e a irmã (ainda mais nova) ouviam a conversa de cabeça baixa e quanto mais a humilhação prosseguia na praça pública, mais a cabeça das meninas se aproximava do chão.

E eu pensei... pensei... nos adultos que nos tornámos!

Como é possível que tenhamos chegado a tal ponto de frustração, confusão e raiva que precisamos humilhar nossos filhos em praça pública?

Quando vos descrevo esta situação não ficam com o estômago às voltas? Não se questionam o que acontecerá em privado com estas crianças?

Se ainda não é suficiente para vos fazer ficarem enjoados então vou prosseguir. Sim, a humilhação pública destas crianças estava só a começar quando eu cheguei!

A mãe destas crianças decidiu falar sobre o pai das suas filhas; o homem que ela escolheu para pai das suas filhas; o pai que as meninas não escolheram; o pai que as meninas amam acima de qualquer outro homem e o pai que será SEMPRE o modelo de homem que elas irão procurar um dia para construírem a sua família...

Surpresa das surpresas: esse homem, ex marido dessa mãe, também não faz nada, não contribui para nada na vida das filhas, de acordo com as palavras da mãe em praça pública "não presta para nada" e o atual namorada dessa senhora também não, bem como o filho desse namorado!

Conseguem imaginar onde já ia a cabeça destas meninas?

Pois é...

E eu questionei-me: será possível viver acreditando que tudo à minha volta está mal e só eu estou certa? Também me questionei o que se passa connosco os, supostamente, adultos e maduros e responsáveis por educar os nossos filhos, as nossas crianças.

Cheguei a algumas conclusões:

Precisamos desacelerar, este nosso modo automático no dia a dia não nos trás nada de positivo ou saudável e está a afetar TOTALMENTE as nossas crianças;

Precisamos parar com o hábito de sobreviver e formatar os nossos cérebros para VIVEREM!

E, acima de tudo, precisamos ouvir mais as nossas crianças. Questioná-las sobre como se sentem e ouvi-las verdadeiramente!

A vida repete-se em ciclos e, mesmo quando não concordamos com o que aconteceu na nossa infância, se não estivermos bem atentos, vamos reproduzir todos esses ciclos e os nossos filhos irão reproduzi-los e os nossos netos...

Será possível que eu sou assim tão perfeita (e os outros tão imperfeitos) que não posso melhorar os meus ciclos?

Será possível que eu sou assim tão perfeita (e os outros tão imperfeitos) que não posso melhorar um pouco a cada dia que passa?

Será possível que eu sou assim tão perfeita (e os outros tão imperfeitos) que não cabe a mim contribuir para um mundo melhor?

Será possível que eu sou assim tão perfeita (e os outros tão imperfeitos) que não posso ter humildade de reconhecer que tenho todo o direito a errar e aprender com esses erros?

Será possível que eu sou assim tão perfeita (e os outros tão imperfeitos) que não preciso parar e compreender quando eu sou a adulta e do outro lado está a criança e, exatamente por isso, o meu comportamento deve ser o do adulto e do outro lado estará o comportamento de criança?

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